Devo ter nascido no país errado. Eu que gosto tanto de organização, transparência, objetividade, eficiência, planejamento... parece que atraio situações nas quais mesmo a mais tranquila das pessoas (que não sou) se irritaria. Eu que sou chata e me irrito à toa, ou as coisas estão mesmo exageradamente fora do lugar no Brasil?
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Chego de uma viagem (dentro do país) de 12 horas e tenho contas a pagar. São oito horas da noite de uma sexta-feira. Minha conta pessoa física está sem saldo e preciso fazer uma transferência da conta pessoa jurídica. Não consigo: a informação é que estou em horário não permitido. Horário não permitido? Mas não são nove horas da noite - limite para transações em conta de pessoa física! Ligo para a assistência vinte e quatro horas do banco e descubro que conta de pessoa jurídica só pode ser acessada das 7 as 19 horas, de segunda a sexta, a não ser que você reconfigure o computador. Para reconfigurar, é preciso autorização do banco, que só pode ser feita no próximo dia útil e que somente estará valendo um dia útil depois! Onde, no site do banco, essa informação está disponível??? Vou ter que pagar juros na minha conta pessoal e juros no cartão que deixei de pagar. Irritada, fiz uma reclamação na ouvidoria no site do banco e um boletim de ocorrência solicitando o não pagamento dos juros pelo fato da informação não estar disponível.
A mesma coisa já acontecera antes, para fazer transferências de uma conta pessoa física para outra pessoa jurídica, da mesma pessoa. É preciso solicitar por escrito que o mesmo banco, na mesma agência, autorize uma transação desse tipo.
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Vou para o aeroporto à meia-noite, com a certeza da passagem reservada na forma pedida: de Rio Branco para Curitiba, assento na janela, de preferência não nas primeiras poltronas. Não há nenhuma razão para essa escolha, a não ser uma mania adquirida nos tempos em que se fumava nas poltronas traseiras do avião. Recebo a passagem e vou para o embarque. Não lembro de olhar nem checar.
Pois bem: recebi um bilhete que me levou para Brasília; lá desembarquei e esperei mais de duas horas para embarcar para SP; em SP esperei mais de duas horas para embarcar para Curitiba. Cheguei em Curitiba às 2:30 do dia seguinte. E sabe em qual poltrona me colocaram? 30 F a última fila, sabe aquela que não reclina? Será que eu deveria ter pedido a poltrona um e ter dito que queria o caminho mais rápido para chegar?
Acho que bancos e aeroportos são os lugares mais irritantes do mundo.
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Abri uma empresa de consultoria. Devidamente assessorada por um contador, paguei a primeira remessa de impostos no dia certo, tudo de acordo. Acontece que alguns dias antes daquele no qual venciam os impostos, chegou um documento, pelo correio, com data de pagamento que coincidia com os que o contador havia me enviado. Automaticamente, pensei que deveria pagar, inclui no total e paguei. Era um documento do Banco do Brasil, emitido por uma tal de Associação Comercial e Empresarial do Brasil e definido como contribuição empresarial.
Alguns dias depois, chegou outro documento, agora da Caixa Econômica Federal, definido como contribuição de classe anual, para uma tal de ANACOM - Associação Nacional do Comércio. Também paguei, certa de que se tratava de mais um imposto.
Quando recebi, novamente, um boleto de cobrança da tal Associação Comercial e Empresarial do Brasil, resolvi investigar. Liguei para o número colocado no documento e perguntei pelo site e por informações: aí fiquei sabendo que a contribuição era voluntárias (ou seja dos otários que eles conseguissem enganar feito eu), o site não existia, ou seja, estelionato. Lá vou eu novamente fazer boletim de ocorrência e tentar me livrar do prejuízo.
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A última enganação.
Mandei fazer umas cortinas em casa e a empresa que contratei não entregou no prazo nem respondeu às minhas reclamações; fui ao banco e suspendi dois cheques pré-datados que havia dado. Depois de uns dias recebi uma ligação de um cara dizendo que havia comprado a empresa e estava tentanto regularizar os serviços pendentes. Eu concordei e acertamos que eu faria outros dois cheques uma vez que os anteriores haviam sido cancelados por mim. Ele entregou o serviço e tudo bem.
Um ano depois recebo um aviso de um cartório de protesto de títulos dizendo que eu tinha dado um cheque sem fundo que estava indo para protesto caso eu não pagasse em 24 horas. Fui ao banco e descobri que aqueles dois cheques que eu havia cancelado somente perderiam efeito se tivesse havido um BO - boletim de ocorrência. O picareta pegou os dois cheques, entregou para um outro picareta cobrar, este foi ao banco e, não conseguindo descontar nem tendo o banco carimbado o cheque como cancelado, protestou e tive que pagar. Dá prá entender? O dono do cartório me instruiu: para não ser cobrado, ao cancelar o cheque, é preciso invocar uma tal Linha 21 no banco. Já paguei um e em breve deverão me cobrar o outro, com custas do cartório e tudo o mais.
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Moral das estórias:
1. Sugiro a todo cliente do Banco do Brasil que, quando abrir uma conta pessoa jurídica, fale mais ou menos assim, com educação, à pessoa que atender: obrigado por receber o meu dinheiro em seu banco; infelizmente, vou precisar usar um pouco desse dinheiro, sabe, prá pagar umas continhas, comprar umas coisinhas, mas por favor, me explica quando eu posso acessar a minha conta e eu prometo que somente vou usar o meu dinheiro naquelas horas que você permitir. Muito obrigada pela sua consideração.
Se existem razões técnicas para toda essa dificuldade - que tal se o site do Banco do Brasil escrevesse algo assim: desculpe, mas por razões Y e Z, os serviços via internet de sua conta somente podem ser acessados nas seguintes circunstâncias X e W. Um resuminho simples e rápido, lógico e eficiente e estava resolvida a questão, evitando tanta irritação.
2. Já reclamei bastante das companhias aéreas neste meu blog. E já sugeri uma associação em defesa dos passageiros. Mas acho que seria conveniente pedir sempre lugar na frente e olhar tudo, tim tim por tim tim, antes de sair do balcão da companhia. Perguntar com educação, algo assim: estou pagando essa passagem, e gostaria de estar indo para tal lugar - é para lá mesmo que vocês estão me levando? estou indo pelo roteiro mais curto disponível? e vou poder reclinar meu assento quando depois que o avião decolar?? Muito obrigada pela sua consideração.
3. A robalheira está uma vergonha. Todo mundo querendo ganhar de todo mundo a qualquer custo. Não devo ser só uma neófita. Aposto que outros já caíram nos mesmos golpes que eu. Fique esperto e não pague nada sem consultar o seu contador, como já me advertiu o meu. E outra coisa, pare de dar cheques pré-datados e se deu algum e teve que cancelar, lembre-se da Linha 21 e faça um BO. Aliás, BO é a salvação prá tudo, sempre tenha um BO perto de você. É a única coisa que parece que funciona. Aliás, os bancos não deveriam obrigar as empresas que utilizam seus serviços a especificar nos boletos algo assim: essa é uma contribuição voluntária, etc, etc?
Chego à conclusão que tudo depende exclusivamente de você e todos estão tentanto, o tempo todo, lhe enganar. Até Curitiba, que já foi exemplo de correção, está cheia de caloteiros.
Tenho certeza de que o Brasil já foi diferente.