quarta-feira, setembro 20, 2006

A VOLTA DE GALVEZ

Gravações da Minissérie Amazônia

Foto que tirei ontem, acompanhando as gravações da minissérie "Amazônia: de Galvez a Chico Mendes", de Glória Perez, na cidade cenográfica construída a uma hora de Rio Branco, no Acre.

Galvez foi presidente da República Independente do Acre, deposto pelos seringalistas por desentendimentos em relação à política de cobrança de impostos sobre a borracha. Um mês depois foi reempossado e a cena que assisti era a da volta dele à vila que estava construindo e que era a sede do país independente.

A cena foi linda e emocionante, parecia que o mundo tinha voltado no tempo de um momento para o outro. Tudo é bem feito: os espaços públicos, as casas, os objetos dentro das casas, os detalhes dos seringueiros com suas feições acreanas e suas roupas perfeitas da época.













Aparentemente, é o caos, gente correndo de um lado para o outro, fazendo cenas isoladas que você custa a entender onde elas se inserem em um roteiro que somente a autora e o diretor têm na cabeça. Os equipamentos se deslocam, os atores trocam de cena e de vestimentas, os figurantes se organizam e se dispersam, picolé e água à vontade para refrescar o ambiente que, lá pelas 11 horas da manhã, já é escaldante.

A maneira ao mesmo tempo firme e gentil como o diretor Marcos Schechtman trabalha, chama a atenção. É uma agenda pesada, estenuante, e quando sua voz ecoa no silêncio daquela imensa beira de rio, fica o mais completo silêncio. A gente fica prestando atenção na cena e no jeito como ele trabalha: cuidadoso, compenetrado, atencioso, subindo e descendo os barrancos da cidade de Galvez muito antes das seis horas da manhã.

Consulte o blog da missisérie e você vai conhecer a história toda:
http://amazonia.globo.com/Series/Amazonia/0,,7104,00.html


terça-feira, setembro 19, 2006

ELOS ENTRE GALVEZ E CHICO MENDES















À esquerda, a escola de Galvez, construída em Porto Acre no início do século passado, a primeira instituição de ensino do Acre.

À direita, a escola de Chico Mendes, construída no Seringal Nazaré, em Xapuri, cem anos depois, a primeira escola de alfabetização de seringueiros.


Visita ao cenários das gravações

Fui ontem à cidade cenográfica construída para a minissérie "Amazônia: de Galvez a Chico Mendes" de autoria de Glória Perez e dirigida por Marcos Schechtman, a uma hora de Rio Branco, No Acre. Assisti, ao vivo e a cores, o episódio no qual Galvez, expulso pelos seringalistas é reconduzido ao cargo. Ele volta aplaudido por ambos, seringueiros e seringalistas, e foi essa a cena que eu vi ser gravada. Memorável!

A cidade foi construída com todo cuidado. Os detalhes são perfeitos. O espaço vai ficar lá de forma permanente e é a reprodução da Cidade do Acre como deve ter sido durante o tempo em que Galvez dedicou-se a criar uma república independente.

Resgatando a identidade de Galvez

Um dos aspectos que mais me atrai na forma como a Glória Perez está construindo a história da mini-série Amazônia é a reinterpretação da identidade de Galvez e a conexão entre o Acre daquele tempo e o de hoje. Não o hoje de 2006, porque a história vai parar no assassinato de Chico Mendes. Mas o tempo de cem anos que vai da guerra acreana pela borracha ao mundo sem seringais das últimas décadas do século passado.

Lendo sobre Galvez fica-se com a idéia de que ele foi muito mais que um personagem de folhetim. Pode-se até concordar que ele foi um aventureiro por ter realizado uma revolução que certamente era mais dele do que dos outros. Mas não tenho dúvidas de que ele deve ter sido o primeiro de um tipo de visionário que continua existindo nesse pedaço de mundo, que insiste em construir algo mais que um barracão e um posto de cobrança de impostos sobre a borracha.

E a cidade cenográfica materializa essa nova imagem de Galvez. Ali estão os prédios públicos que ele criou ou idealizou: o da escola, da estatística, da polícia, da alfândega, em um momento em que a borracha oriunda do Acre iria fazer toda a diferença na continuidade daquela economia, uma vez que os seringais do Pará e do Amazonas não somente não tinham a mesma produtividade como já estavam bastante esgotados. Bastava colocar nordestinos ignorantes dentro da mata e aviá-los com jabá e conserva importada e ninguém nunca iria se importar com o destino deles. Galvez acabou indo muito mais longe do que o mandato que lhe havia sido conferido pelos seringalistas, foi deposto e convidado a deixar o país.

Cem anos depois

Não dá para não comparar com o que aconteceu cem anos depois, em outro cenário da revolução, Xapuri. Especialmente porque é a educação um dos elos entre os dois momentos. E foram essas imagens que me vieram à mente ao conhecer a cidade de Galvez hoje de manhã.

Em 1981, no meio dos empates contra a Bordon, em Xapuri, Chico Mendes decidiu criar a primeira escola para alfabetizar seringueiros que - desde o tempo de Galvez - haviam continuado cortando seringa sem nunca ter frequentado uma sala de aula.

O Projeto Seringueiro foi uma invenção dele e a escola foi construída na colocação Já Com Fome, rebatizada Independência, no meio do Seringal Nazaré, um dia a pé de Xapuri, dentro da mata ameaçada.

Chico foi marginalizado, desprestigiado, pelas autoridades do seu país, mas seu sonho, já antes idealizado por Galvez, acabou se realizando. Muitas escolas foram criadas desde então e muito mais vem sendo feito em direção a um futuro que tem elos muito fortes com aquele momento que hoje está sendo reconstruído. E que a minissérie vai mostrar.

O impacto da minissérie

Será grande, para o Acre, o impacto dessa minissérie. Já está sendo. As pessoas que estão ali trabalhando como figurantes estão vivendo uma estória que mal e mal conheciam pelos livros. Encontrei um sindicalista amigo do Chico, lá de Xapuri, que estava representando um coronel de barranco, enquanto seu filho e seu pai, eram seringueiros. Todos se sentem parte dessa história que foi entrando na vida deles como ficção mas que os faz conectar o passado ao presente.

Certamente inúmeras idéias de utilização deste cenário já devem estar disponíveis e discutidas. Nada se faz se um plano de futuro, no Acre de Jorge Viana que, com certeza, será também o De Binho Marques.

Ao ver hoje todos aqueles figurantes tão acreanos, me ocorreu uma idéia: reproduzir, todos os anos, naquele lugar, a história da revolução acreana, produzida aqui, como fruto de uma escola de teatro que já nasce com um cenário privilegiado. Uma ópera popular, que poderia começar em Porto Acre e terminar nas ruas de Xapuri.

E assim, todos os anos, o Acre teria motivos para convidar a sociedade brasileira para conhecer uma história inédita. Também poderia convidar aqueles que, no mundo inteiro, ouviram falar da história de Chico Mendes e dos seringueiros e certamente gostariam de ver e conferir o que aconteceu desde então. E tenho certeza de que não sairiam decepcionados com o que está acontecendo por aqui.

sexta-feira, setembro 08, 2006

terça-feira, setembro 05, 2006

GUERRA SEM TRINCHEIRAS

Guerra sem trincheiras

Por Mary Alegretti em 05/09/2006

Fonte: Amazonia.org.br

O assassinato brutal de uma jovem pesquisadora na Amazônia aguça sentimentos de revolta e impotência. Ela não foi assassinada por conflitos de terra ou desavenças políticas. Ela foi morta mais por ser mulher, estar fora do contexto convencional, e ter encontrado em seu caminho um ser irracional e violento. De pouco adianta questionar autoridades; o indivíduo - em liberdade condicional e que certamente não deveria ter sido solto - já está detido e pouca diferença isso fará no final da história. Ao menos é o que parece.

Vanessa era jovem, 36 anos, portuguesa, já havia realizado pesquisas no Nordeste, na Índia, trabalhado no Peru, na Costa Rica e estava agora pesquisando no Acre. Decidira trabalhar em uma área ainda não estudada, o Projeto de Assentamento Riozinho. Como afirmou Christiane Ehringhaus, (http://reservasextrativistas.blogspot.com) ela tinha uma vida muito rica de experiências e aventuras e quase mudara de rumo antes de decidir retomar as pesquisas e ir para o Acre, como muitos outros pesquisadores vêm fazendo nos últimos anos.

Esse é o perfil de uma pessoa incomum, corajosa e de uma pesquisadora determinada. É o perfil da maioria dos membros da Rede de Pesquisadores em Reservas Extrativistas. Muitos de nós já passaram por situações de risco, encruzilhadas perigosas, oposição da família, dos filhos, dos amigos. No entanto insistimos em seguir o rumo desse caminho.

Que motivos são esses que levam pesquisadores a associar à curiosidade intelectual, a coragem, e deixar trilhas fáceis e já dominadas para ir para o desconhecido e o imponderável? Quantas vezes nos perguntamos - como traduzir o que nos move? É esse sentimento de descoberta, de estar em um lugar onde ninguém antes pesquisou, entrevistar pessoas que nunca conversaram sobre suas vidas e que se percebem falando coisas que nem sabiam que existiam dentro delas.

Somos como os esportistas que buscam a montanha mais alta e os mares mais revoltos; só que o que nos move é visitar a aldeia mais isolada, viajar por rios não navegados, encontrar pessoas não entrevistadas, conhecer culturas não descritas, escrever diários não registrados nas ciências sociais e naturais...

No fundo, porém, o que mais nos motiva - e acho que Vanessa também partilhava essa marca - é a identidade que criamos com as pessoas que pesquisamos e o envolvimento com o futuro que as espera.

Esse sentimento de compromisso com a mudança da realidade investigada é difícil de ser entendido para quem não o conhece. Parece que a Amazônia é um lugar que costuma deixar esse tipo de marca, de forma indelével, em nossas peles. E é uma marca intransferível que quando se instala em nós, não nos dá sossego, não nos deixa em paz, a não ser quando, cansados de lutar contra, deixamos que a coerência tome conta e não procuramos mais parecer igual aos outros, quando de fato não somos.

É esse laço invisível com a realidade que a gente estuda e desvenda, com as pessoas que nos ensinam sobre ela, e com o futuro que imaginamos poder transformar, que nos mobiliza.

A violência política sempre esteve no horizonte de referência de pesquisadores que trabalham em áreas de conflito e em seringais. Mesmo territórios já protegidos como reservas extrativistas e terras indígenas, estão constantemente ameaçados por interesses contrários. Também já presenciamos a violência entre iguais, causada por desentendimentos, ciúmes e brigas e aquela que afeta grupos vulneráveis, como as mulheres.

Mas a violência que acreditamos ser parte do universo urbano, aquela que os sociólogos relacionam com a desagregação familiar das grandes cidades, com o uso de drogas, com a rede de tráfico, essa ainda não cabia no universo da floresta. Para esse tipo de violência as pacíficas comunidades tradicionais não têm a menor proteção, como não teve Vanessa e não terá nenhum dos pesquisadores da nossa Rede Resex.

Vivemos uma saturação de violência em nosso país, uma gratuidade em relação à vida, que é verdadeiramente assombrante. Embora não declarada, é uma situação de guerra. Só que jornalistas, pesquisadores, quando vão cobrir ou estudar uma região em guerra, contam com a proteção da ONU ou do governo, ou de ONGs internacionais. Eles não vão de GPS, computador, caneta, caderno e máquina fotográfica.

Não ser uma pessoa convencional, não pesquisar temas banais, não estar nos lugares seguros que se espera que esteja, arriscar uma aventura pessoal e científica... ao invés de assegurar um espaço de reconhecimento do país e dos pares, acaba se transformando em um risco exclusivamente pessoal contra o qual não há nenhuma instituição a quem se possa recorrer.

Precisamos de um espaço institucional de proteção para que a vida possa continuar entre os que não estão em guerra. É uma medida urgente a ser cobrada do Estado brasileiro antes que a mata amazônica e suas pacíficas comunidades, sejam envolvidas por essa guerra sem trinheiras.

NOS RIOS DA AMAZÔNIA


VANESSA SEQUEIRA VIAJANDO NOS RIOS DA AMAZÔNIA

VANESSA TRABALHANDO


VANESSA REALIZADO PESQUISA DE CAMPO NO ACRE

DIA DA AMAZÔNIA


VANESSA SEQUEIRA,
PORTUGUESA, PESQUISADORA,
ASSASSINADA QUANDO FAZIA TRABALHO DE CAMPO
EM SENA MADUREIRA, NO ACRE


segunda-feira, setembro 04, 2006

PROJETO DE PESQUISA

Projeto de pesquisa de Vanessa Sequeira financiado pelo Programa Rufford de Pequenas Bolsas.

Balancing forest conservation and livelihood security of forest dwellers in the Western Brazilian Amazon

Can people really make a living from the forest whilst conserving it, or is there a cost in terms of human welfare and/or conservation of the forest? This is a particularly complex question in the context of the Amazon rainforest, where perceived values differ according to the interests of each particular stakeholder. If conservation policies and strategies are to be successful, it is fundamental to address the divergent goals of different stakeholders and identify viable solutions to minimize trade-offs between environmental conservation and socio-economic development. These solutions are urgently needed given the annual loss of forest cover of about 18,000 km² in the Brazilian Amazon alone, and where 16% of the original forest cover has been lost over the past decades, threatening both biodiversity conservation and the livelihoods of forest-dwelling people.

The study will determine the impact of forest dwellers' livelihoods on the forest resources by focusing on case studies from forest frontier areas in Acre, the westernmost state of the Brazilian Amazon. Specific objectives are: 1) to identify how households achieve livelihood security through forest-based production systems, and determine the extent to which income is generated through forest resources; 2) to determine the impact of livelihood activities on forest conservation; 3) to determine actual and potential trade-offs between livelihood security and forest conservation, and identify ways to minimize them. The fieldwork will principally consist of household level interviews of forest dwellers, complemented with remote sensing techniques. Information will be collected relating to indicator variables which will subsequently be analysed both qualitatively and quantitatively. It is aimed to conduct at least 200 household interviews within the study areas over the period of a year.

PESQUISADORA ASSASSINADA

Vanessa Sequeira foi brutalmente assassinada ontem, em Sena Madureira, no Acre. A notícia pode ser acessada aqui: http://www.noticiasdahora.com

Ela fazia parte da Rede Resex e seu perfil, reproduzido abaixo, está no blog das reservas extrativistas: http://reservasextrativistas.blogspot.com

Vanessa Sequeira esta fazendo doutorado em um programa conjunto entre o Centro Tropical de Investigação e Ensino Agronomico (Costa Rica) e a Universidade de Wales Bangor (Reino Unido). Ela tem mais de 10 anos de experiência profissional no âmbito de conservação e desenvolvimento de recursos naturais, principalmente trabalhando com organizações não-governamentais. Vanessa dedica-se especialmente ao manejo e fomento dos produtos não-madeireiros e a certificação florestal. Ela trabalhou quatro anos em Madre de Deus, Peru, dando apoio aos sistemas de produção extrativista daquela região. Atualmente Vanessa esta residindo em Rio Branco-Acre, onde está investigando a relação entre processos de desmatamento e o bem estar social em projetos de assentamento no município de Sena Madureira. Sua pesquisa aborda a comparação de sistemas de produção extrativistas com sistemas agropecuários, a partir do enfoque de “livelihoods” (meios de vida) para entender a realidade socio-economica dos projetos de assentamento da região. Seu projeto de pesquisa também faz parte da rede de pesquisa em pobresa e meio ambiente coordenado pelo CIFOR. Outra fonte para conhecer sua pesquisa é o Programa Rufford de Pequenas Bolsas. As instituições parceiras na pesquisa incluem SETEM/PZ – UFAC, SEF, SEATER e INCRA.
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Este já é o segundo caso de pesquisador assassinado na Amazônia, em um ano. O arqueólogo James Brant Petersen foi morto durante um assalto a um restaurante de beira de estrada em Iranduba (AM), em agosto do ano passado. Agora, Vanessa Sequeira. Até pouco tempo atrás a Amazônia se caracterizava pela violência fundiária, mas estava livre daquela típica das grandes cidades. Agora não dá mais prá ser pesquisador de campo como manda a tradição de centenas de anos das ciências sociais e naturais.

Para onde vamos sem futuro?

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sábado, setembro 02, 2006

ÍNDIOS: PROJETO EXEMPLAR

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Fernanda Kaingang, Daniel Munduruku e Lúcio Terena

As fotos de Fernanda e Lúcio foram tiradas durante a participação de ambos em debate organizado pela Natura na COP8 em Curitiba. A foto de Daniel é do site do Inbrapi http://www.inbrapi.org.br
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Há tempo venho observando a interessante mudança que está ocorrendo nas sociedades indígenas: além de serem representados por seus líderes tradicionais em espaços de interlocução com a nossa sociedade, agora também têm seus próprios advogados e educadores. São profissionais formados nas universidades que ocupam o cenário até então dominado por não índios (mesmo que atuando em defesa deles) o que faz com que a interlocução se altere radicalmente. Embora houvesse antes o peso da tradição, não havia equidade na forma, o que agora existe. Isso significa o uso dos mesmos intrumentos de poder - a informação e o conhecimento - para defender interesses na maior parte dos casos opostos.

Dois exemplos dessa mudança são as organizações criadas por eles: o Inbrapi em 2003 e o Cafi no mês passado.

Inbrapi - Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual

O INBRAPI é uma organização não-governamental criada em 2003 para proteger os conhecimentos tradicionais e sob inspiração do Encontro de Pajés que aconteceu em 2001 em São Luís do Maranhão. Tem como um de seus objetivos criar um espaço permanente de inserção da comunidade tradicional nos tópicos de propriedade intelectual que sirva de referência aos povos indígenas em suas demandas concernentes à proteção do patrimônio cultural e intelectual.
Olha a turma que dirige o Inbrapi

Daniel Munduruku DIRETOR-PRESIDENTE - Formado em Filosofia e Mestrando em Educação na USP. É escritor premiado nacional e internacionalmente por suas obras voltadas para a divulgação do pensamento indígena. Foi um dos coordenadores do curso de Magistério Indígena do estado de São Paulo. Suas aulas e palestras versam sempre sobre Educação, Conhecimento Tradicional e Literatura Indígena. Coordena coleção de livros que narram histórias tradicionais de diversos povos e ajuda na formação e preparação de autores indígenas. E-mail: danielmunduruku@uol.com.br

Lúcio Flores Terena DIRETOR-VICE-PRESIDENTE – É formado em teologia e administração de empresas. E-mail: mailto:lucioterena@bol.com.br

Lúcia Fernanda Kaingang DIRETORA-EXECUTIVA – É Kaigang, nascida no Rio Grande do Sul. É advogada, é mestranda em Direito na UNB e assessora das associações Guarani e Kaigang do RS. Ministrou vários cursos de formação para professores e lideranças indígenas sobre os direitos constitucionais e Propriedade Intelectual. Prestou assessoria para a Coordenação-geral de Defesa dos Direitos Indígenas (CGDDI) da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília. E-mail: luciakaingang@inbrapi.org.br

Cafi - Centro Amazônico de Formação Indígena

A Coiab divulgou uma nota com a informações sobre o Cafi no final de agosto. O Cafi foi criado com o objetivo de fortalecer organizações indígenas locais e regionais na promoção da autonomia dos povos indígenas e no fomento da sustentabilidade de seus territórios, através da formação de técnicos próprios em gestão territorial. Pioneiro no treinamento de indígenas em etnogestão começa ainda neste mês com uma primeira turma de 15 estudantes indígenas, provenientes de 12 Terras Indígenas da Amazônia, e funcionará com um quadro de consultores indígenas e não indígenas, especialistas nas diferentes áreas de interesse dos povos indígenas amazônicos.

O primeiro curso de Gestão Etnoambiental abordará as seguintes disciplinas: fiscalização e proteção em Terras Indígenas; técnicas de Sistemas de Informação Geográfica (Sig) e sensoriamento remoto; legislação ambiental e indígena; e técnicas de manejo de recursos naturais. Depois da capacitação inicial de cinco meses, os alunos retornarão parasuas terras de origem para colocar em prática os conhecimentosadquiridos, como o suporte da Coiab.

No primeiro ano de funcionamento, o Cafi pretende formar duas turmas de 15 estudantes cada, podendo este número aumentar de acordo com os resultados alcançados. A iniciativa, liderada pela Coiab, através de seu Departamento Etnoambiental, tem o apoio do Programa de Conservação da Amazônia da The Nature Conservancy (TNC) e da organização Amigos da Terra (Suécia).

De acordo com o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo Saterê-Mawé, "O Cafi para o movimento indígena representa a passagem da teoria à prática, na formação própria de indígenas, e visa se tornar uma referência na luta pela defesa dos direitos indígenas, na efetivação da
gestão territorial, sustentabilidade e autonomia dos povos indígenas".

Para o diretor do Centro, Lúcio Terena, além de representar uma afirmação étnica e de cidadania, o Centro vem a atender a uma antiga reivindicação dos Povos Indígenas da Amazônia, que sempre lutaram por maior capacidade política e técnica para sua autonomia e sustentabilidade". (Coiab)