quarta-feira, agosto 29, 2007

SERVIÇOS AMBIENTAIS E POVOS DA FLORESTA

Foto do Zig Koch de uma colocação de seringueiro do Acre.


O Segundo Encontro da Aliança dos Povos da Floresta vai ser realizado de 18 a 23 de setembro em Brasília e um dos temas centrais é a compensação às comunidades indígenas e tradicionais pelo serviço que prestam ao proteger os ecossistemas e seus serviços em prol da humanidade. As mudanças climáticas poderão destruir o cuidado de gerações amazônicas e esses grupos, além de frágeis e sem o apoio tecnológico que têm as grandes empresas para se proteger, são muito vulneráveis. É preciso se antecipar e fazer isso logo. A falta de investimentos nestas áreas é crítica e a escolha de pessoas erradas para dirigir os órgãos ligados às comunidades tradicionais é imperdoável. O Ministério do Meio Ambiente precisa ser prático, agir, corrigir omissões, ouvir as comunidades e se preparar para dar respostas rápidas. Será cobrado neste Encontro.

O artigo de Paulo Motinho, publicado no Correio Brasiliense de hoje é uma prévia do debate:


Amazônia no aquecimento global


Em 1998, durante uma grande seca amazônica impulsionada por El Niño, fenômeno climático que altera as condições do clima em todo planeta, cerca de 6 milhões de hectares de florestas foram destruídos pelo fogo no sul do Pará e no estado de Roraima. Os prejuízos naquele ano chegaram a quase R$ 5 bilhões. Em outubro de 2005, a Amazônia sofreu novamente intensa estiagem devido ao aumento na temperatura das águas do Atlântico. Mais de 250 mil famílias foram atingidas.

A seca severa na Amazônia poderá ser comum no futuro em conseqüência do aquecimento global em curso. Os mais recentes estudos, incluindo os do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), órgão ligado à Convenção da ONU sobre o clima, prevêem que, sob o ritmo atual do aquecimento global, a floresta amazônica pode se transformar em grande cerrado dentro de poucas décadas.

As mudanças afetarão não somente o bioma amazônico, mas também o modo de vida tradicional dos povos desse e de outros ecossistemas. Indios, seringueiros, agricultores familiares, quilombolas, ribeirinhos e inúmeros outros povos tradicionais têm exercido papel importante na preservação das florestas, que armazenam cerca de 80 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a uma década inteira de emissão global de gases do efeito estufa pela humanidade.

Esse imenso patrimônio, contudo, vem sendo ameaçado. O modelo de desenvolvimento dos últimos 25 anos, ainda vigente, considera a floresta barreira ao crescimento econômico. O desmatamento, embora tenha diminuído recentemente, ainda é elevado, emitindo, em média, cerca de 200 milhões de toneladas de carbono (3% do total global das emissões). Por conta do desmatamento amazônico, o Brasil encontra-se entre os cinco maiores países emissores de gases do efeito estufa.

A combinação do aquecimento global com o avanço do desmatamento poderá reduzir as chuvas na Amazônia. Inúmeros incêndios florestais já são registrados na região. Sem chuvas, a mortalidade das árvores poderá aumentar em até seis vezes. Mesmo as florestas protegidas em unidades de conservação, reservas extrativistas ou terras indígenas poderão ser afetadas pela mudança do clima regional e global.

Se alteração drástica nas bases do desenvolvimento da Amazônia não ocorrer nos próximos anos, o desmatamento — e a conseqüente mudança do clima — permanecerá em ritmo acelerado. Também continuarão as pressões por mais terras para expandir a agricultura, já que não há mais áreas disponíveis nos Estados Unidos, Europa e Ásia para esse fim. As pressões poderão se intensificar pela crescente demanda por biocombustíveis.

Por seu lado, o governo brasileiro vem demonstrando que é possível controlar o desmatamento via ações de comando e controle. Nos últimos dois anos, houve redução de mais de 50% nas taxas de desmatamento da Amazônia. No entanto, para garantir quedas continuadas e de longo prazo, será necessário valorizar monetariamente o bioma amazônico. Será preciso compensar financeiramente os que realizam esforços para manter as florestas conservadas. Entre eles, e especialmente, os povos das florestas.

Para tanto, é necessário que se reconheçam definitivamente os serviços ambientais (contribuição para um clima regional e global equilibrado, por exemplo) prestados pela floresta amazônica e que sejam, de alguma forma, remunerados. O reconhecimento deve ser internacional. A maior oportunidade do Brasil e dos povos da floresta de ter uma compensação por seus esforços está nas negociações sobre mudança climática.

Embora o Protocolo de Kyoto não contemple ações em favor da redução do desmatamento, está sendo discutido pela Convenção de Mudança Climática da ONU o conceito de redução compensada do desmatamento. Por esse conceito, os países em desenvolvimento que detêm florestas se candidatariam voluntariamente a promover diminuição nas emissões oriundas do desmatamento florestal. O próprio Brasil tem proposta nesse sentido.

Uma coisa é certa. Se nada for feito para alterar os princípios do desenvolvimento para a Amazônia brasileira, aproximadamente 1 milhão de km2 de florestas será desmatado até 2050, liberando 33 bilhões de toneladas de carbono para a atmosfera — volume que equivale a quase cinco anos de emissões globais. Ademais, estaria em risco o que a Amazônia tem de melhor: seu povo.

quinta-feira, agosto 23, 2007

BORRACHA: NOVAS DESCOBERTAS

Estou reproduzindo abaixo artigo de Thaís Fernandes publicado na revista on line Ciência Hoje em 12/07/2007. A borracha nativa continua sendo um ativo da biodiversidade amazônica com permanente potencial para novas descobertas científicas.

"Rumo ao ‘pneu verde’?
Material feito a partir do látex pode dar origem no futuro a produto reciclável e de menor custo"
http://cienciahoje.uol.com.br/96429

Foto retirada do artigo: Extração de látex de uma seringueira. Um composto derivado do látex desenvolvido por cientistas da Unicamp pode levar no futuro à produção de pneus recicláveis.

"Um dos principais problemas associados ao uso de pneus é a poluição causada por seu descarte no meio ambiente. Agora, um material de base nanotecnológica desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a partir do látex da borracha natural pode ser a chave para que, no futuro, sejam fabricados pneus recicláveis com qualidade semelhante à dos atuais e custo de produção menor.

Segundo o químico Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Unicamp, é difícil reprocessar a borracha usada atualmente na fabricação de pneus. Para que ela adquira a elasticidade necessária, passa por um processo – chamado vulcanização – que dificulta a separação das ligações entre suas cadeias de moléculas e impede que, mesmo aquecida, a borracha amoleça.

“Conseguimos desenvolver uma borracha parecida com a que se faz com a vulcanização, mas sem usar esse processo, que é a origem dos problemas ecológicos dos pneus”, disse Galembeck em conferência na reunião anual da SBPC. O novo material é um nanocompósito de látex de borracha natural e argila em água, feito a partir da combinação desses componentes em escala nanométrica. “Encontramos uma possibilidade de transformar a borracha natural em nanocompósito aumentando as propriedades que ela mesma tem.”

Para trabalhar com a borracha natural, a equipe de Galembeck analisou sua composição química e suas propriedades elétricas. O trabalho, que resultou em uma tese de doutorado defendida em 2005, mostrou que a borracha por si só é um nanocompósito polimérico. Ela tem grande parte de material nanoparticulado, que contribui para sua coesão, além de outros elementos químicos.

O químico ressalta que a borracha natural é um modelo interessante para a nanotecnologia, por ter propriedades que até hoje são mal compreendidas pela ciência. “A borracha sintética não substitui a natural em muitas aplicações. Há 60 anos os pesquisadores tentam entender por quê, mas esse mistério ainda não foi resolvido.”

Elasticidade e resistência

O pesquisador ressalta que o nanocompósito de látex demonstrou propriedades mecânicas inéditas. “Conseguimos uma elasticidade muito boa, aliada a uma maior resistência à tração.” O nanocompósito de látex foi analisado com diferentes percentuais de argila na sua composição, o que modificou completamente suas propriedades e, conseqüentemente, permite seu uso em diversas aplicações. “Esse processo é plenamente controlável”, acrescenta. Além disso, pode ser usado o látex extraído de qualquer espécie de seringueira.

Segundo Galembeck, após a adição de 30% de argila, a nova borracha se comporta como um termoplástico, ou seja, um material que pode ser reprocessado, porque se torna plástico quando aquecido. “A partir desse nanocompósito, será possível desenvolver um elastômero termoplástico que poderá ser usado para fabricação de pneus recicláveis.”

Galembeck diz que atualmente já existem elastômeros termoplásticos, mas nenhum deles tem as características adequadas para a confecção de pneus. “Desenvolver borrachas reprocessáveis resolveria um problema ambiental grande e reduziria os custos de produção”, acrescenta.

O nanocompósito de látex está patenteado e licenciado para uma empresa. Os pesquisadores agora trabalham no desenvolvimento do processo de produção do material em maior escala. “Ainda estamos longe do seu uso em pneus. Para isso, seria necessário produzir muito material para sustentar a realização de grandes experimentos”, avalia.

Para o químico, o Brasil hoje vive uma oportunidade fantástica diante da necessidade mundial de substituir as matérias-primas derivadas de petróleo. “Nenhum país tem condições melhores de produzir nessa área.” "

quarta-feira, agosto 22, 2007


A revista norte-americana American Prospect acabou the publicar uma edição especial sobre a Amazônia que pode ser acessada pelo link abaixo:
September 2007: Tomorrow's Amazonia

Deforestation and Poor Amazonians
Mary Allegretti
Brazil's forest dwellers, often its best stewards, are trying hard to make a living from the standing forest.

The Fractured Landscape
Philip M. Fearnside
A road here and a cattle ranch there imperil more than the immediate vicinity.

Biodiversity in Jeopardy
Michael Goulding and Adrian Forsyth
There are more life forms in Amazonia than anyplace else. But by the end of this century, there may be many fewer.

Better Governance
Stephen Schwartzman and Paulo Moutinho
Expanding the network of protected areas and better environmental-law enforcement can help to curb deforestation.

The Role of the Public Sector
Anthony Hall
Concerted governmental policies to protect the forest have been few and far between.

Till the Cows Come Home
Mark London and Brian Kelly
Once economically marginal, cattle ranching in the Amazon now yields big bucks.

Climate Change and the Forest
Daniel Nepstad
Warming breeds drought, drought breeds fires, fires release carbon, carbon breeds warming.

The Shielded Guianas
Mark J. Plotkin
The global economy discovers the most obscure corner of the rainforest.

Deforestation and Global Markets
Stephen Schwartzman and Paulo Moutinho
An Amazonian dilemma: Brazil has become a global producer, and China a global consumer.

The Search for Solutions
Roger D. Stone
From indigenous people to carbon traders, concerned groups have stepped up the fight to save the Amazon.

Whither Amazonia?
Thomas E. Lovejoy and Yolanda Kakabadse
A new generation of forest-friendly political leaders has emerged in parts of the Amazon.

The Economics of Storing Carbon
Ghillean T. Prance

Tomorrow's Amazonia
Roger D. Stone
As farming, ranching, and logging shrink the globe's great rainforest, the planet heats up. A Prospect special report on the assaults on, and the efforts to protect, the Amazon.