Roda Viva
- O Roda Viva de hoje trouxe uma entrevista com o presidente da Bolívia Evo Morales feita na sexta-feira passada em La Paz. O fato dos jornalistas brasileiros estarem desiludidos com o PT, Lula e a esquerda em geral, talvez não justifique a cobrança, frieza e até certa arrogância em relação a um presidente que assumiu um governo com os problemas que tem a Bolívia. Muito menos a idéia de defesa (sutil) da Petrobras face às críticas de Morales. Denúncias de que a Petrobras vem desrespeitando a legislação ambiental e os territórios indígenas em países como a Bolívia e o Equador estão no site amazônia.org.br e outros endereços internacionais dos movimentos indígenas todos os dias e há muitos anos. Seria muito útil se a imprensa brasileira aprofundasse esse tema sem preconceitos.
- Fora esse sentimento de superior indiferença (ou dejà vu) que o Brasil sempre passa quando fala de outro país da América Latina, a entrevista foi muito boa. Ouvir um presidente dizer em claro e em bom som que o Estado precisa controlar a exploração dos recursos naturais para o país crescer é uma mensagem básica para a AL e muito difícil de ser inserida no modelo de desenvolvimento. Talvez esse esteja sendo o objetivo da Bolívia porque não conta com outra saída. Ou melhor, por isso mesmo tem até mais valor, porque poderia estar sendo exatamente o contrário - já que só tem natureza vamos acabar logo com ela em nome do desenvolvimento, como tem acontecido por aqui.
- Uma das dificuldades certamente será enfrentar a pressão dos EUA. E o fato que noticiei aqui neste blog em fevereiro, da senadora boliviana Leonilda Zurita, que teve seu visto suspenso e não pode participar de um seminário na Universidade da Flórida - foi mencionado por Morales. Disse que solicitou aos EUA que informe antes a lista das pessoas que não terão visto para que não sejam humilhadas ao chegar no aeroporto e ter o visto cancelado na hora de embarcar como aconteceu com ela. Em troca dessa delicadezao, seu governo também vai apresentar a lista de norte-americanos que não serão bem-vindos na Bolívia.
- Temas como estes serão objeto do curso que vou dar para a pós-graduação, na Universidade da Flórida, neste segundo semestre sobre "Amazônia: Políticas Públicas para Conservação e Desenvolvimento" (The Amazon: Public Policies for Conservation and Development). Será um curso sobre a Pan Amazônia, a Amazônia Continental, a Amazônia Internacional, ou seja todos os países amazônicos pensados juntos estrategicamente na formulação de políticas públicas de desenvolvimento e meio ambiente. Será também um curso estilo seminário porque todos os especialistas em Amazônia que lecionam na UF ( e talvez alguns de fora) serão convidados a dar um aula e eu vou fazer os ganchos e elos entre os temas. Certamente será uma experiência inovadora e vou aprender tanto quanto ensinar. Sugestões de temas, autores, idéias são bem vindas.
- A grande questão que me atormenta neste tipo de debate em sala de aula, é até quando a sociedade americana vai continuar quieta, respaldando a política internacional de Jorge Bush. Não falo da do Iraque mas da América Latina. Será muito importante que os intelectuais americanos aprendam a criticar seu país e exijam a mudança das regras. Passamos vinte anos descobrindo formas de questionar uma ditadura, muitos morreram por causa disso, uma democracia foi conquistada e está se fortalecendo e consolidando. Enquanto a chamada maior democracia das Américas está calada! Somente quando os americanos saem dos EUA e visitam outros países é que percebem, como relatou uma aluna minha ao vir ao Forum Social Mundial em 2005, como são odiados e começam a se perguntar porquê. Qualquer mudança, hoje, na AL e no meio ambiente, depende muito do que a sociedade americana será capaz de fazer nas próximas eleições.
Altino Machado
- Altino Machado que tem o blog mais rico que conheço, em informação e temas, reclama da minha ausência na blogosfera - fico mais de uma semana sem voltar ao meu blog! Mas Altino, que culpa eu tenho de não acontecer tanta coisa interessante aqui em Curitiba! Impossivel competir como Acre. Curitiba é uma gracinha de cidade, planejada, moderna, limpa e organizada. Gosto de tudo isso. Mas às vezes me pergunto: como conectar esses dois mundos tão distantes?
- Na verdade, Curitiba vai se conectar com o Acre até o final do ano de uma forma surpreendente. Mas isso é surpresa - é um projeto que a Secretaria de Meio Ambiente vai implementar em memória de Chico Mendes. Conversa para daqui alguns meses. É por isso que não tenho tido tempo de blogar, Altino, estou envolvida nessa novidade.
- Era eu que estava online no seu blog agora, 1:54. Até mais.
5 comentários:
Querida Mary, como não acontece tanta coisa interessante no Paraná quanto no Acre, gostaria de saber o seguinte: Você foi contratada pelo Governo da Floresta com consultora para finalizar a proposta do programa piloto de conversão de dívida externa em investimentos no Acre. A proposta inicial foi aprovada pelo Ministério da Fazenda e chegou a ser apresentada ao Tesouro dos EUA, em Washington, pelo governador Jorge Viana. A promessa era de que a sociedade tomaria conhecimento da proposta em março. O que você nos conta a respeito disso? Agradeço de coração pelas suas referências elogiosas. Um forte abraço.
Altino Machado
É importante acompanhar esse projeto, Altino. Será uma iniciativa pioneira e duradoura, inteiramente voltada para as ONGs. Durante o semestre passado o Governador fez as articulações em Washington e Brasília e, em dezembro e janeiro eu entrevistei os principais órgãos de governo e as ONGs para construir uma veresão preliminar para discussão. Antes de chegar na versão final o Governador Jorge Viana certamente irá apresentar à sociedade e, depois de incorporar as mudanças, estará pronto para ser encaminhado ao Ministério da Fazenda e ao Tesouro dos Estados Unidos. Será a primeira troca da dívida por meio ambiente realizada no Brasil.
Querida Mary,
è segunda vez que vou visitando o seu blog. Isso quer dizer que a primeira vez gostei. Voçe nao vai-se espantar se declaro-lhe que eu sou um espanhol que vive na Italia, mas que jà passei tambem pela Africa... sò no Brasil nunca estive... ainda!
Sinto-me gratamente sorprendido pelo facto que voçe vive e trabalha num pais, o grande Brasil, que està muito afastado fisicamente do meu mundo, mas assim e tudo as causas e as batalhas nas quis voçe milita estao todas elas muito perto de mim, da minha sensibilidade e preocupaçoes: è um caso tipico de distancia material mas com grande proximidade emocional.
A defensa das populaçoes nativas, a salvaguarda dos direitos humanos, a conservaçao das florestas, o respeito pelo equlibrio da natureza e uma gestao controlada dos recursos naturais sao os grandes desafios para poder garantir um futuro à humanidade. Isso sta certo para mim! Portanto, parabens as pessoas corajosas como voçe e a todos aqueles que lutam por um mundo mais justo e mais humano para todos e nao apenas para os poucos privilegiados dos paises ricos.
Faço votos para que voçe nao desanime perante a indiferencia e o comodismo consumistico das maiorias tolamente estupidas e satisfeitas do proprio aparente bem-estar.
Antonio Hueso
Roma
Caro Antonio
Fico feliz com sua visita ao meu blog e com a identidade nos temas e posturas. Continue lendo e comentando e venha conhecer o Brasil que você certamente vai se impressionar com as coisas incríveis que são feitas aqui.
abraço, Mary
Sra. Mary,
Faço minhas as palavras do Sr. Antonio Hueso´, sobretudo nos elogios
a vc.
Vou pro próximo post>>>
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