quarta-feira, janeiro 25, 2006

AMAZÔNIA EM MARSH HALL



Marsh Hall é essa casa de 1860 onde funcionou, por muitos anos, a primeira Escola de Florestas dos Estados Unidos, e que é hoje parte do patrimônio histórico nacional. Era a residência de um famoso paleontologista e explorador do século dezenove, professor Othniel C. Marsh.

Ali, naquela janela do térreo do lado direito da entrada, era o meu gabinete quando fui professora visitante da Universidade de Yale no fall de 2004.

O curso chamou "Environment, Development and Social Movements: an Amazonian perspective"(Meio Ambiente, Desenvolvimento e Movimentos Sociais: uma perspectiva Amazônica) e teve Christiane Heringhaus, que estava fazendo seu doutorado, como co-professora. Christiane defendeu sua dissertação no ano passado depois de mais de dois anos de pesquisa na Reserva Extrativista Chico Mendes. O título: "Post-Victory Dilemmas: Land Use, Development, and Social Movement in Amazonian Extractive Reserves" (Dilemas Após a Vitória: Uso da Terra, Desenvolvimento e Movimentos Sociais nas Reservas Extrativistas Amazônicas) é auto-explicativo em relação à relevância do debate.

Os alunos que fizeram o curso tiveram a oportunidade de aprender comigo a história de Chico Mendes, os empates contra as derrubadas, o Encontro Nacional dos Seringueiros onde surgiram os debates iniciais em torno da idéia de reserva extrativista, e as estratégias para conseguir que essa proposta fosse apoiada por algum órgão de governo. E aprenderam com a Christiane os desafios atuais quando aquela idéia de vinte anos atrás se transformou em uma política pública bem sucedida.

Foi desse debate que surgiu a idéia de ampliar as pesquisas nas reservas porque não sabemos nem direito quantas áreas existem quanto mais como se vive e quais os desafios que as pessoas estão enfrentando. O Conselho Nacional dos Seringueiros acompanha, reúne, anda pelas áreas. Mas existem lugares nos quais nunca chegou. O CNPT, criado para ser o interlocutor oficial principal, não tem estrutura financeira nem pessoal preparado para isso. O resultado é que, vinte anos depois que começaram a ser criadas, não temos uma visão de conjunto sobre as políticas e práticas de implementação.

Dar este tipo de curso nos Estados Unidos (Yale, Chicago e Flórida) tem me permitido perceber o incrível avanço dos movimentos sociais na Amazônia. Não existe nada parecido nos outros países da Bacia Amazônica em termos de criatividade, alcance e vitalidade das propostas. Existem movimentos muito fortes, especialmente indígenas nos países andinos, como a eleição de Evo Morales evidenciou na Bolívia. O que não existe é a prática de implementar propostas do nada, contando exclusivamente com a determinação de fazê-las virar realidade. Quem poderia imaginar, em 1976, quando começaram os empates, que em 2006, teríamos um patrimônio tão grande protegido para comunidades locais!

Amanhã a estória passa por Chicago antes de chegar na Flórida.

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