sexta-feira, março 10, 2006

MEU MUNDO EM CURITIBA




















Morando fora do país adquiri consciência de uma coisa interessante: tenho comigo os dois principais ícones do Brasil quando se fala de meio ambiente. Moro em Curitiba - cidade conhecida no mundo inteiro pela qualidade de vida e soluções de planejamento urbano - e trabalho na Amazônia - símbolo do futuro planetário. Falo de Curitiba como cidadã e da Amazônia como profissional. E, em alguns momentos, estas duas experiências juntas podem gerar resultados supreendentes.

Moro há mais de 30 anos nesta casa em Curitiba. Mudei para cá quando Juliano, meu filho, era pequeno, logo depois que meu pai morreu e me deixou uma herança com a qual comprei esta casa. Daqui saí para ir para o Acre fazer minha tese de mestrado em 1978 e para cá voltei. Sempre volto prá cá. Nesta casa já moraram muitas pessoas interessantes. Foi aqui também que funcionou o Instituto de Estudos Amazônicos.

Agora, neste mês de março, daqui há uma semana, muitos amigos meus, de vários lugares do mundo, virão me visitar aqui em Curitiba. Todos decidiram vir no mesmo período!

Chee Yoke Ling, do Third World Network, por exemplo, que eu conheci na Ásia em 1988, vai estar aqui; Tony Gross, que morava no Acre em 1978 e que estava na Oxfam quando nós organizamos o Projeto Seringueiro em 1981, também vai vir; Steve Schwartzman, que mora em Washington e ajudou a articular a campanha internacional contra a BR 364 com o Chico Mendes, também. Luis Carlos Ros, cujo primeiro emprego foi no IEA e hoje trabalha no WRI em Washington também vem. Nazaré Soares que trabalhou comigo no Ministério do Meio Ambiente e hoje é assessora da Ministra Marina Silva, também.

São muitas pessoas que conheci em diferentes momentos, na Amazônia, nos Estados Unidos, em Brasília, na Europa e na Ásia, e que neste mês de março de 2006 vão estar aqui. É claro que eles vêm porque a COP8 vai acontecer aqui, em Curitiba, mas também vejo esse evento como uma especial visita ao meu lugar. Sempre saí daqui para falar sobre os seringueiros, a Amazônia e nunca pude encontrar aqui, na minha cidade, estas pessoas, todas juntas. Agora, todos aqueles que eu encontro fora estarão aqui frequentando os mesmos restaurantes que eu costumo ir, emitindo opinião sobre os mesmos fatos da cidade sobre os quais eu costumo falar e, quem sabe, criando pontes que antes não existiam.

Poucas destas pessoas - quase nenhuma - com as quais trabalhei anos seguidos (décadas), de fato conhecem minha vida, minha casa, meu acervo amazônico, minha família, meu refúgio, aquele para onde volto sempre nos intervalos de curtas viagens ou longos tempos em outras paragens. Como me disse outro dia Tony Gross, Curitiba nunca foi suficientemente exótica para se constituir em objeto de interesse para uma pessoa como ele. Também prá mim Curitiba já foi comum demais e demasiadamente provinciana para mobilizar minha imaginzação.

Hoje vejo diferente. Curitiba sempre produziu fatos, projetos e eventos à frente do seu tempo. Mesmo de forma conservadora. Jaime Lerner conseguiu colocar Curitiba na agenda internacional e fazer com que os curitibanos passassem a admirar e se orgulhar de sua própria cidade. Chico Mendes conseguiu colocar a Amazônia no cenário internacional por suas idéias inovadoras. Tenho orgulho de ter tido a oportunidade de trabalhar com os dois. A primeira homenagem ao Chico foi feita em Curitiba, por Jaime Lerner, o Memorial Chico Mendes, no Bosque Gutierrez, inaugurado em março de 1989, três meses depois que ele foi assassinado. Vale a pena visitar.

Vale a pena visitar Curitiba. Vive-se muito bem aqui. Este é um lugar onde o Estado (e os funcionários públicos) ainda se considera responsável pelo bem público independentemente do governante que ocupa temporariamente os espaços de poder.

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