terça-feira, dezembro 16, 2008

Chico Mendes - O Preço da Floresta

rodrigo2.jpgRodrigo Astiz foi o diretor do documentário "Chico Mendes – O Preço da Floresta" que a Discovery Channel mostrou esta semana. Foi o primeiro documentário sobre Chico Mendes dirigido por um brasileiro e realizado no local onde os fatos aconteceram. Com muita pesquisa, entrevistas e boas imagens, o documentário atualiza uma história de vinte anos atrás para a realidade de hoje de Xapuri e do Acre. Merece ser projetado mais vezes, principalmente na Reserva Chico Mendes, em Xapuri, e em Rio Branco, para que as pessoas que ajudaram a contar a história também vejam o alcance, no presente, do que ajudaram a construir. O artigo a seguir foi escrito por Rodrigo especialmente para o blog.

Chico Mendes – O Preço da Floresta
Rodrigo Astiz


No final de 1988, quando Chico Mendes foi assassinado, eu tinha vinte anos e confesso que sabia pouco sobre ele e a luta dos seringueiros do Acre. Da época lembro principalmente das manchetes noticiando o assassinato e, depois, da prisão, julgamento e condenação dos assassinos.

Por isso, quando o Discovery Channel Latin America propôs a produção de um documentário sobre a vida e o legado de Chico Mendes, achei que era uma oportunidade de conhecer a fundo sua história e, melhor, contá-la a toda uma nova geração de jovens na América Latina.

A grande pergunta que me fazia era: quem afinal foi Chico Mendes? Ambientalista? Líder sindical? Seringueiro? E o que descobri é que ele foi tudo isso e muito mais. Foi irmão, primo, marido, pai, amigo, companheiro e tantas outras coisas para aqueles que tiveram a chance de conhecê-lo e conviver com ele.

Logo nos primeiros momentos da pesquisa para desenvolver o projeto, surgiram ligados a Chico Mendes nomes como o de Mary Allegretti, Marina Silva, Jorge Viana e Binho Marques, pessoas que nesses 20 anos se destacaram no cenário político nacional, sempre em defesa da floresta, dos povos que vivem nela e, principalmente, de um novo modelo de desenvolvimento para a região amazônica. Depois, em Xapuri e nos seringais ao redor, conheci os primeiros companheiros de Chico: o irmão, Zuza, os primos, Raimundão, Nilson e Duda, a tia Cecília, os companheiros Osmarino, Moisés, Gomercindo e tantos outros. E ainda ouvi a história daqueles que morreram no processo como Wilson Pinheiro e Ivair Higino.

Tendo Chico Mendes como amálgama, esses dois grupos de pessoas fizeram um levante para barrar o avanço do processo de desmatamento que corria solto na época transformando enormes áreas de mata em fazendas para a criação de gado. No processo ainda criaram o conceito de Reservas Extrativistas, uma proposta objetiva de desenvolvimento sustentável. Isso em pleno regime militar e, tanto quanto foi possível, de forma pacífica. E numa época em que o alcance do discurso ambiental, hoje dominante, ainda era restrito. A meu ver, isso é algo incrível na História brasileira recente e que merece ser contado de forma mais detalhada por que é um exemplo do que a sociedade organizada pode realizar.

Tive a sorte e o privilégio de logo nos primeiros dias de gravação ter a Mary ao meu lado “traduzindo” esse universo até então novo para mim. E de ver a emoção dela reencontrando velhos amigos e visitando localidades que há muito não via, como a escola do Projeto Seringueiro, no seringal Rio Branco. Para todos foi impressionante ver a escola cheia de crianças e adolescentes – todos filhos de seringueiros – e ouvir seus sonhos e planos para o futuro.

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Rodrigo Astiz com o professor da escola da colocação Rio Branco e com Raimundo de Barros, primo de Chico Mendes, na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, Acre, agosto de 2008

Junto com Mary tive também uma pequena amostra de como era o clima de tensão na região na época. No período de gravação, entre maio e junho de 2008, aconteceu em Xapuri o julgamento dos acusados de assassinar Ivair Higino, morto em junho de 1988, seis meses antes de Chico Mendes. Os acusados eram todos da família de Darcy Alves, condenado como mandante do assassinato de Chico. No dia do julgamento, quando almoçávamos no restaurante da dona Vicenza, um grupo ligado aos acusados entrou para almoçar e ao ver que Mary estava lá começou a agredi-la verbalmente de forma indireta. Foi algo chocante tanto pela violência das palavras quanto pela covardia do sujeito e um exemplo do tipo de gente que Chico Mendes e seus companheiros enfrentaram há vinte anos e das táticas que eles utilizavam.

As experiências extrativistas do Acre, especificamente da região de Xapuri, me impressionaram muito. Sempre ouvi falar de como o desenvolvimento sustentável é importante, do valor da “floresta em pé”, mas ver tudo isso na prática é totalmente diferente. A impressão que tive é que sim, é possível ganhar mais dinheiro com a floresta e seus produtos do que derrubando-a. São casos como o da COOPERACRE tendo a frente Manuel Monteiro, um filho de seringueiro que passou pelas escolas do Projeto Seringueiro e chegou à universidade e que consegue juntar o conhecimento dos dois mundos para agregar valor aos produtos da floresta e vendê-los em mercados de todo o Brasil. Ou então, da recém inaugurada fábrica de preservativos que aumentou o valor pago pelo látex aos seringueiros e ainda gerou empregos em Xapuri. Ou ainda a fábrica em Rio Branco que transforma os troncos extraídos de projetos de manejo florestal em laminados de madeira que são exportados para a Europa, entre outros lugares.

Sei que o que vi é apenas uma parte muito pequena da realidade, mas tudo isso me faz pensar que o Acre é como um grande laboratório de experiências de sustentabilidade onde várias iniciativas são testadas. O que acontece lá e em outros lugares pode ser usado um dia como parte de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, não apenas nas regiões de floresta, mas também reservas extrativistas marinhas e outras que vierem a surgir. O mais importante, na minha opinião, é agregar valor aos produtos extrativistas e construir a ponte entre produtor e mercado consumidor.

O momento histórico não poderia ser mais apropriado e talvez os 20 anos da morte de Chico Mendes seja a oportunidade ideal para fazermos essa reflexão.

Como todos sabem a produção de um documentário é um trabalho de criação coletivo. Aqui vai o nome de todos que com seu conhecimento, trabalho e dedicação realizaram Chico Mendes – O Preço da Floresta:

Direção: Rodrigo Astiz
Produção Executiva: Krishna Mahon
Roteiro: Eduardo Acquarone e Paula Knudsen
Assistência de Direção: Marcello Bozzini
Coordenação de Produção: Adriana Marques e Isabel Oliva
Produção: Adriana Oda e Carolina Sciotti
Pesquisa: Cristina Uchoa, Paula Knudsen e Stella Grisotti
Direção de Fotografia: Zé Mário Fontoura
Som Direto: Miquéias Motta
Coordenação de Finalização: Marilia Portella e Viviane Rocha
Montagem: Paulo Taman
Trilha Sonora: Plug In / Diogo Poças
Finalização de Som e Mixagem: Voxmundi Audiovisual
Locução: Nelson Gomes
Computação Gráfica: Oca Filmes
Produtores: Fabio Ribeiro, Gil Ribeiro, João Daniel Tikhomiroff e Michel Tikhomiroff

Para Discovery Channel Latin America

Direção de Produção e Desenvolvimento: Michela Giorelli
Produção: Carla Ponte e Irune Ariztoy
Gerência de Produção: Marcela Sánchez Aizcorbe

Uma Produção Mixer para Discovery Networks Latin America / US Hispanic

2 comentários:

Athaydes disse...

Mary! Perdi todas as exibições do documentario, mas meu interesse é de passar ele para minhas turmas de biologia e de eng florestal. Como posso adquirir uma cópia? Tenho como entrar em contato com o diretor do Filme? Muito Obrigado mesmo!

Mary Allegretti disse...

Athaydes, vc pode telefonar para a produtora, Mixer, e solicitar uma cópia com o Diretor, Rodrigo Astiz. O telefone é 11 3046 7950.