Rio, 31.12.06
O ano termina e não consegui tirar da minha cabeça a imagem da Ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Grace, sendo quase sequestrada na Linha Vermelha quando vinha de Brasília para o Rio no início deste mês. Teve seu carro roubado, ficou a pé ao lado de seu colega, o ministro Gilmar Mendes, sem mala, sem nada, até ser socorrida pelos seus seguranças que vinham atrás. É claro que muitas pessoas foram assaltadas ali naquela noite, embora só o caso deles tenha sido divulgado.
Duas coisas me deixaram atônita. A primeira, foi o fato da Ministra não ter dito nada. Ou melhor, disse que isso poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. E a segunda foi a Polícia Federal dizer que ela deveria ter pedido escolta do aeroporto ao centro da cidade.
Se a mais alta autoridade do sistema judiciário do país - quarta na linha de sucessão da presidência - passa por esse constrangimento, inclusive com risco de vida, e não fala nada, não cobra das autoridades nem exige segurança no país, nós cidadãos comuns estamos completamente perdidos. Pior ainda é imaginar que para trafegar com segurança é necessário uma escolta da Polícia, algo ainda mais distante da vida das pessoas normais que trabalham, pagam os impostos e vivem na mais completa insegurança. É demais!
A violência que tomou conta do país é assustadora porque é baseada em atos de covardia. Pessoas indefesas estão sendo assassinadas brutal e covardemente. O que pode fazer uma pessoa que de repente vê alguém colocando foto no ônibus onde viaja? Assim é fácil deixar uma cidade acuada, principalmente porque ninguém conta mesmo com a proteção do Estado, o primeiro a se omitir. Ficam todos calados, paralisados, atônitos, inconformados e sem chance de fazer alguma coisa. É uma violência covarde que mata velhos, crianças e mulheres indefesos sem dar a eles qualquer chance de reagir.
Não é possível que o país continue refém da falta de decisão, preparo e inteligência para lidar com uma questão que não é privilégio do Brasil, com certeza, mas que pode ser enfrentada como outros países já demonstraram.
A omissão do poder público culminou com os ataques do final do ano e a ridícula troca de opiniões, ao vivo, a respeito das causas. Os eleitos que se apressem a por ordem na casa que ninguém aguenta mais. 2006 acabou com esta trágica marca que espero não contamine as expectativas que sempre acompanham o início de um novo ciclo.