sábado, setembro 02, 2006

ÍNDIOS: PROJETO EXEMPLAR

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Fernanda Kaingang, Daniel Munduruku e Lúcio Terena

As fotos de Fernanda e Lúcio foram tiradas durante a participação de ambos em debate organizado pela Natura na COP8 em Curitiba. A foto de Daniel é do site do Inbrapi http://www.inbrapi.org.br
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Há tempo venho observando a interessante mudança que está ocorrendo nas sociedades indígenas: além de serem representados por seus líderes tradicionais em espaços de interlocução com a nossa sociedade, agora também têm seus próprios advogados e educadores. São profissionais formados nas universidades que ocupam o cenário até então dominado por não índios (mesmo que atuando em defesa deles) o que faz com que a interlocução se altere radicalmente. Embora houvesse antes o peso da tradição, não havia equidade na forma, o que agora existe. Isso significa o uso dos mesmos intrumentos de poder - a informação e o conhecimento - para defender interesses na maior parte dos casos opostos.

Dois exemplos dessa mudança são as organizações criadas por eles: o Inbrapi em 2003 e o Cafi no mês passado.

Inbrapi - Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual

O INBRAPI é uma organização não-governamental criada em 2003 para proteger os conhecimentos tradicionais e sob inspiração do Encontro de Pajés que aconteceu em 2001 em São Luís do Maranhão. Tem como um de seus objetivos criar um espaço permanente de inserção da comunidade tradicional nos tópicos de propriedade intelectual que sirva de referência aos povos indígenas em suas demandas concernentes à proteção do patrimônio cultural e intelectual.
Olha a turma que dirige o Inbrapi

Daniel Munduruku DIRETOR-PRESIDENTE - Formado em Filosofia e Mestrando em Educação na USP. É escritor premiado nacional e internacionalmente por suas obras voltadas para a divulgação do pensamento indígena. Foi um dos coordenadores do curso de Magistério Indígena do estado de São Paulo. Suas aulas e palestras versam sempre sobre Educação, Conhecimento Tradicional e Literatura Indígena. Coordena coleção de livros que narram histórias tradicionais de diversos povos e ajuda na formação e preparação de autores indígenas. E-mail: danielmunduruku@uol.com.br

Lúcio Flores Terena DIRETOR-VICE-PRESIDENTE – É formado em teologia e administração de empresas. E-mail: mailto:lucioterena@bol.com.br

Lúcia Fernanda Kaingang DIRETORA-EXECUTIVA – É Kaigang, nascida no Rio Grande do Sul. É advogada, é mestranda em Direito na UNB e assessora das associações Guarani e Kaigang do RS. Ministrou vários cursos de formação para professores e lideranças indígenas sobre os direitos constitucionais e Propriedade Intelectual. Prestou assessoria para a Coordenação-geral de Defesa dos Direitos Indígenas (CGDDI) da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília. E-mail: luciakaingang@inbrapi.org.br

Cafi - Centro Amazônico de Formação Indígena

A Coiab divulgou uma nota com a informações sobre o Cafi no final de agosto. O Cafi foi criado com o objetivo de fortalecer organizações indígenas locais e regionais na promoção da autonomia dos povos indígenas e no fomento da sustentabilidade de seus territórios, através da formação de técnicos próprios em gestão territorial. Pioneiro no treinamento de indígenas em etnogestão começa ainda neste mês com uma primeira turma de 15 estudantes indígenas, provenientes de 12 Terras Indígenas da Amazônia, e funcionará com um quadro de consultores indígenas e não indígenas, especialistas nas diferentes áreas de interesse dos povos indígenas amazônicos.

O primeiro curso de Gestão Etnoambiental abordará as seguintes disciplinas: fiscalização e proteção em Terras Indígenas; técnicas de Sistemas de Informação Geográfica (Sig) e sensoriamento remoto; legislação ambiental e indígena; e técnicas de manejo de recursos naturais. Depois da capacitação inicial de cinco meses, os alunos retornarão parasuas terras de origem para colocar em prática os conhecimentosadquiridos, como o suporte da Coiab.

No primeiro ano de funcionamento, o Cafi pretende formar duas turmas de 15 estudantes cada, podendo este número aumentar de acordo com os resultados alcançados. A iniciativa, liderada pela Coiab, através de seu Departamento Etnoambiental, tem o apoio do Programa de Conservação da Amazônia da The Nature Conservancy (TNC) e da organização Amigos da Terra (Suécia).

De acordo com o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo Saterê-Mawé, "O Cafi para o movimento indígena representa a passagem da teoria à prática, na formação própria de indígenas, e visa se tornar uma referência na luta pela defesa dos direitos indígenas, na efetivação da
gestão territorial, sustentabilidade e autonomia dos povos indígenas".

Para o diretor do Centro, Lúcio Terena, além de representar uma afirmação étnica e de cidadania, o Centro vem a atender a uma antiga reivindicação dos Povos Indígenas da Amazônia, que sempre lutaram por maior capacidade política e técnica para sua autonomia e sustentabilidade". (Coiab)

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